Canchungo, Guiné-Bissau – 12 de agosto 2021
Aos 13 anos de idade, *Apili está na sétima classe, o primeiro ano do liceu. Isto não é o usual visto que na Guiné-Bissau, é bastante comum que as meninas fiquem atrasadas, principalmente nas comunidades fora da capital onde é suposto que as meninas fiquem em casa para ajudar nas tarefas domésticas.
“Eu sei que a única forma de conseguir tornar-me tudo o que preciso de ser é através dos meus estudos”, afirma Apili com determinação.
Na escola, ela é excelente em Estudos Sociais, Matemática e Português. As fórmulas matemáticas não a assustam, ela memoriza facilmente os verbos em português e adora aprender sobre a sociedade, leis e os direitos das crianças. Quando questionada sobre o seu tema preferido das aulas de educação social, o patriarcado atinge um ponto inabalável.
“Todo o peso de uma casa inteira não devia ficar sobre os ombros do homem,” opina Apili. “Não percebo porque é que tem de ser assim, porque se ambos pais trabalharam e partilharem poder de decisão eu acredito que a situação de muitas famílias seria melhor.”
“O governo também deve se concentrar mais nas crianças, porque há muitas famílias carenciadas que não têm necessariamente os meios para sustentar os seus filhos. As coisas eram diferentes aqui em casa antes da minha família aderir ao Programa SOS de Fortalecimento de Família. Às vezes, não tínhamos muito para comer ou dinheiro para comprar materiais escolares. Mas todas as crianças devem poder ir à escola, mesmo que os pais não tenham dinheiro.”
“Todas as meninas devem ter a oportunidade de ir à escola,” diz Apili firmemente.
“Se as meninas estudarem e conseguirem empregos estáveis, terão mais poder em casa. Não só com dinheiro, mas também com respeito.”
“Desde que a nossa família aderiu ao programa SOS de fortalecimento familiar , tem sido mais fácil matricular todas as crianças na escola e comprar material escolar para elas. Graças ao grupo de poupança de crédito e ao apoio extra, agora podemos arcar com estas despesas”, diz o pai de Apili, Felisberto, que tem mais onze dependentes, de sobrinhos a netos. A mais nova, Simaira * acaba de fazer um.
“Antes deste programa, eu não tinha dinheiro para alimentar todos, pagar as nossas despesas médicas e mantê-los na escola. Agora, estou feliz por vê-los ir à escola todos os dias e sei que não tenho de me preocupar com as propinas. Elas estão garantidas.” Felisberto fala com confiança.
“O meu pai encoraja-me a continuar os meus estudos. Ele quer que eu complete o ensino médio e vá para a universidade. Eu seria a primeira na nossa família a fazê-lo. Nunca tivemos dinheiro suficiente para pagar por tantos estudos, mas esperamos que a nossa situação financeira melhore o suficiente para que possamos ir mais longe,” diz Apili.
“Se me tornar médica ou funcionária pública, vou ganhar o suficiente para melhorar a vida da minha família e isso vai incentivar meus irmãos mais novos a fazer o mesmo, sonhar mais alto”, confessa.
*Nomes alterados para proteger a privacidade da criança.
*Texto e fotos por Elca Cardoso Pereira